Trinta Anos de Querência
Claudiomiro
Machado Ferreira
uem nunca sonhou ser um astro da música? Isso já ocorreu com
muitas pessoas e ainda continuará povoando a mente de muitos adolescentes. A
maioria não consegue, mas para a nossa compensação pessoal, alguns, sim. Como
exemplo temos Ritchie Valens, músico americano descendente de mexicanos, que
musicou La Bamba e compôs Donna, e que morreu jovem em um acidente
aéreo. Em outro triste acidente também morreram os membros do grupo Mamonas
Assassinas, escrachados e divertidos que, querendo ou não, contagiaram a
muitos, se não a todo o País em sua época e com suas composições contagiantes.
Renato Manfredini Júnior, para nós Renato Russo, sonhava o mesmo sonho em seu
quarto, enquanto se recuperava de uma doença que o acometeu quando adolescente.
Para o bem da música e para toda uma geração ele se recuperou e produziu
clássicos do pop rock nacional. O
sonho de ser astro também foi o tema da música Popstar, do grupo João Penca e seus Miquinhos Amestrados.
Apesar de
muitos dos grupos brasileiros terem influência norte-americana, fizeram sua
história no cenário musical. Umas mais longas, outras mais curtas. Assim como a
trajetória do grupo The Wonders, cuja
história é movida pela iniciativa de seu jovem baterista, que impulsionou a
banda quando aplicou um ritmo mais acelerado ao que deveria ser uma balada.
Esta inusitada interferência permitiu que seu grupo estourasse com That Thing You Do!
Certa vez,
Rogério Flausino, vocalista do Grupo J. Quest, grupo mineiro de Belo Horizonte,
falou da dificuldade de ser uma banda que lutava para mostrar seu trabalho fora
do eixo Rio-São Paulo. Desenvolvendo suas técnicas e trabalhando continuamente
esse grupo conseguiu se firmar no cenário musical nacional e está na ativa a mais
de vinte anos. Fugindo da influência norte-americana, o então jovem Paulo
Ricardo, futuro vocalista do grupo RPM, acreditava na criação de uma identidade
nacional para a música, especialmente ao rock,
em uma época em que muito se imitava grupos internacionais, assim como fizeram
muitos cantores em épocas anteriores, como Fábio Júnior e outros, inclusive
adotando nomes estrangeiros e compondo em inglês, enquanto tentavam impulsionar
suas carreiras.
Com o tempo
o valor às raízes brasileiras se fortaleceu e a musicalidade viu nascer muitas
produções locais que acreditavam na expressão de sua cultura, como o movimento Mangue Beat, surgido na década de 90, em
Recife. A valorização da produção local de sons e expressões musicais também
foi explorada por grupos como Titãs e sempre é uma fonte de riqueza que não
pode ser desconsiderada. Nesse sentido algumas expressões se firmam por si só,
como o fado, estilo eminentemente Português e inimitável, bem como expressões
africanas e indígenas, todas muito ricas, locais e que só agregam muito a
qualquer composição musical.
Tratando de
um caso mais específico e puxando a brasa para o nosso assado, como diz o
ditado rio-grandense, temos o Grupo Querência, que ao contrário da fictícia
banda The Wonders, é real em seus
sucessos e trajetória. Afinal, não é qualquer grupo que chega aos 30 anos de
atuação. O Grupo Querência chegou, e hoje é impossível falar de música
tradicionalista gaúcha e traçar um panorama desse estilo musical sem fazer
referência a este grupo. Mesmo para um não aficionado ao estilo, é impossível
não ter ouvido falar ou escutado algumas de suas interpretações, entre elas Mercedita e Roseira Branca, que bem podem ser consideradas marcas do Rio Grande
do Sul, tanto quanto Querência Amada,
de Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha.
O Grupo
Querência, como devem ser todos, demonstra bem o espírito da banda que quer
levar a todos o seu trabalho, independente de onde houver público. Exemplo
disso foi o show apresentado no dia 28 de junho de 2014, na pequena cidade interiorana
de Pedro Osório, e, ao qual, tive a satisfação de prestigiar.
Querência é
um grupo que gosta do que faz e faz brincando, se divertindo e divertindo ao
seu público, sem perder o profissionalismo. Esse profissionalismo e a seriedade
podem ser notados pela forma que conduzem sua apresentação, pela estrutura que
possuem e pelo fato, como já foi dito, de estarem dispostos a se apresentar
onde quer que seja.
Desde o
velho ônibus adquirido nos primórdios de sua composição até a diversidade de
origens de seus atuais componentes, tudo mostra o valor e garra do grupo e faz
aumentar a admiração de quem conhece sua história. A disposição dos integrantes
ao fornecer seus autógrafos, mesmo em meio à apresentação, só faz aumentar a
simpatia pela qualidade com que primam em se apresentar sem esquecer de dar
atenção aos fãs. Atuando desde 1982, desde que surgiu em Pelotas, só fui
assisti-los agora, mas espero que outra oportunidade não falte, pela qualidade
e prazer que foi assistir sua apresentação e para conseguir o autógrafo do
baterista, o único que faltou, ao qual desculpo porque estava em pleno
exercício de sua atividade, que desempenhou tão bem quanto os seus colegas.
Adriano Gross e Claudiomiro Machado Ferreira
Márcio Miranda, Claudiomiro Machado Ferreira e Santiago Domingues
Grupo Querência (1)- Foto Claudiomiro Machado Ferreira
Grupo Querência (2)- Foto Claudiomiro Machado Ferreira