quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Barbearia do Ely

A Barbearia do Ely

Claudiomiro Machado Ferreira

O
uvi certa vez em um filme que toda alma atormentada deseja voltar para casa. Algo parecido, sem tanto pessimismo, ensina a Alquimia, com o retorno ao Um ou ao Início. Nunca é de forma bem definida, mas poucas coisas me fazem ter as sensações da minha infância. Consegui algo próximo quando experimentei alguns pratos preparados pelo cozinheiro e dono do sebo que frequento. Porém, com mais frequência, voltam-me as memórias infantis quando preciso cortar o cabelo.
Em Pedro Osório morava na mesma quadra da barbearia. A famosa e conhecida Barbearia do Ely. A placa era clássica, de madeira, pintada à mão, mostrava o desenho da navalha de um lado e de um pente no outro. Minha mãe me levava. Eu sentava em uma cadeira com rodinhas e ela dava a ordem:
— Bem baixinho.
E eu saía de lá sentindo aquele friozinho na nuca. Com o tempo minha mãe parou de me levar. Ela começou a me mandar sozinho, mas sempre alertava para o comprimento do corte.
— Diz para ele cortar bem baixinho.
Ainda lembro com prazer de um dos meus ritos de passagem. Nunca esqueci aquele glorioso dia em que Ely, o barbeiro, mandou que eu sentasse na cadeira onde só sentavam os adultos. A marca era Ferrante. Eu sempre lia, mas só muito tempo depois cheguei à óbvia conclusão que era o nome do fabricante. Ela tinha cobertura de couro, no encosto e nos braços. Girava em seu próprio eixo e inclinava para trás quando o freguês desejava cortar a barba.
De pequeno, Ely me viu crescer. Mas eu não ia lá apenas para cortar o cabelo. Era comum pedir a sua bicicleta emprestada. Às vezes ele dava uma ralhada ou fazia alguma recomendação resmungosa, mas não lembro de alguma vez ter negado de emprestá-la. Eu, para poder pedir novamente, sempre a entregava na hora combinada. Mas não ia lá só para isso.
Mais comum era ir para ler o jornal. Certeiro, ia direto para a página das histórias em quadrinhos. Era um diário de Porto Alegre, que eu mal sabia ser a Capital e onde nem imaginava que um dia trabalharia e moraria por dez anos. Das tirinhas lembro as do Maurício de Souza e do Super-homem. Lembro do encarte de várias páginas coloridas que vinha aos domingos e que ele permitia que eu levasse para casa. Por algum motivo, que até hoje não sei ao certo, a partir de um certo período as tirinhas que retratavam a vida de Woody Allen começaram a me chamar a atenção. Eu pouco as compreendia, mas lia mesmo assim.
Outro dia marcante, que não lembro bem, mas do qual não esqueço a sensação que tive, foi quando eu mesmo decidi como seria o meu corte de cabelo. O sentimento de ruptura e autonomia de decisão, mesmo com receio do que poderia acontecer depois, até hoje me delicia. É uma daquelas lembranças que me faz voltar às minhas origens quando sento novamente em uma cadeira de barbearia.
Um colega certa vez disse que o aspecto ruim de envelhecer é que a gente já cometeu todos os erros e pecados. Segundo ele, assim a vida perde um pouco da graça. E aos poucos ela vai ficando chata, monótona e previsível. Ele tinha razão. O pior é que a gente só percebe isso aos poucos. E as idas ao barbeiro ficaram cada vez menos aventurescas.
Com a conclusão da minha formação profissional veio a minha entrada no mercado de trabalho. Assim, como o aluguel, cujo primeiro comprovante é um troféu, mas os próximos se transformam em maldições, o mesmo aconteceu com o corte de cabelo. E mês após mês, quase religiosamente, sou obrigado a desembolsar aquela mesma quantia. As barbearias mudaram, os barbeiros também, assim como as placas, que se modernizaram. O Ely, que levava até uma hora para terminar o serviço, entre conversas de política e economia, foi trocado por desconhecidos que cada vez mais rápido e insensivelmente concluem o trabalho. Aquela cadeirinha verde, com a tinta descascada, com o acento de palha tramada ficou apenas na minha memória. Restou a sensação da água borrifada, a qual eu sempre digo sim quando um novo barbeiro pergunta:
 — Quer que molhe?
Os anos passaram. O tempo do corte ficou mais curto e o preço, maior. Hoje um barbeiro leva, em média, quinze minutos para executar um corte. O preço da sua hora de trabalho está hoje em sessenta reais. O dinheiro continua saindo do meu bolso e cada vez mais difícil está para consegui-lo.

Para pessoas como eu, que não trocaram as barbearias pelos salões de beleza, fica a lembrança dos tempos remotos da criança que, de chinelos, voltava para casa correndo, apenas para sentir o frio na nuca com o vento que passava. Também ficou para trás o tempo em que os fios eram todos escuros, mais fortes e os espaços na cabeça eram mais preenchidos. E a vontade de voltar para casa, a cada vez que o tempo passa, só aumenta.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ofício nº018/2013/Circular - Rio Grande, Rio Grande do Sul, 21 de outubro de 2013 - Os Direitos dos Compositores Musicais

Ofício nº018/2013/Circular                           Rio Grande, Rio Grande do Sul, 21 de outubro de 2013.


Os Direitos dos Compositores Musicais


Muitas vezes o Brasil é criticado pelo excesso de leis. Esse excesso ocorre por dois motivos. Primeiro, pela própria previsão constitucional de que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Segundo, é justamente porque se não houver uma regulamentação ninguém se sentirá compelido a fazer. Bom ou ruim é nessa cultura que vivemos a 25 anos, desde que a Constituição foi promulgada e o Artigo 5º, com seu inciso II, passou a vigorar. Fundamental é lembrar que editar leis não é uma prerrogativa única e exclusiva do Brasil, assim como não cumpri-las também não é algo que só ocorra em nosso País. Se é ruim com leis alguém tem dúvidas se seria pior sem elas?
Se por um lado há leis que são feitas para regular quem não cumpre algo, elas também podem ser elaboradas para fazer valer ou reforçar um direito. E direitos, há muitos que não são respeitados. Um deles é o direito moral. O direito de ter o nome indicado ou anunciado, como sendo o do autor, quando uma obra é utilizada. Direito este já previsto na atual Lei de Direitos Autorais e que muitos compositores há tempos estão “ouvindo” ser violado. Algo fácil de constatar quando se escuta a maioria das emissoras de rádio e televisão. Infelizmente poucas pessoas percebem o quanto essa valiosa categoria é prejudicada quando esse direito é desrespeitado. O fato é que a culpa não é deles, afinal compositores não são legisladores.
Todavia, por valorizar os direitos autorais e o ofício do compositor elaboramos um parecer e um modelo de lei. Ambos à disposição de quem quiser ter acesso. Os textos tratam da omissão do nome de compositores em execução de obras musicais e da obrigatoriedade em divulgá-los. Baseado em estudos que buscam o cumprimento de um direito realizamos a elaboração de uma proposta aplicável à realidade dos municípios. Esta proposta já começou a ser enviada às Casas Legislativas e Poderes Executivos. Sua transformação de Projeto em Lei é uma ação simples, sem custos ou gastos onerosos e muito contribuirá para tornar conhecido o nome dos compositores de obras musicais executadas por emissoras de rádio e televisão. Uma ação que proporcionará o digno reconhecimento do trabalho do compositor e beneficiará toda a produção musical brasileira.




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CLAUDIOMIRO MACHADO FERREIRA
Consultoria - Assessoria - Palestras
Propriedade Intelectual – Direito Autoral & Propriedade Industrial
Rio Grande – Rio Grande do Sul - Brasil
Fone: (053) 9126-7510 (Claro)/ (053) 9903-5891 (Vivo)



sábado, 12 de outubro de 2013

Aula Magna com o Dr. Aury Lopes Jr

O Diretório Acadêmico Ruy Barbosa - DARB - , com o apoio da Faculdade de Direito - FADIR - e da Universidade Federal do Rio Grande - FURG - , trouxe a Rio Grande o Doutor em Direito Processual Penal Aury Lopes Júnior, para realização da Aula Magna da Faculdade de Direito, que aconteceu dia 11 de outubro de 2013, no anfiteatro do Colégio Liceu Salesiano Leão XIII. O palestrante foi nomeado pelo Ministro Cezar Peluso a instituir Grupo de Trabalho para estudar, analisar e emitir Nota Técnica sobre o Projeto de Reforma do Código de Processo Penal (PLS na 156/2009). O Jornal do Comércio, [de Porto Alegre, no dia 07 de agosto de 2012, página 3,] apresentou como "novidades sugeridas pela Comissão de Juristas" a definição de "pena de seis meses a dois anos de prisão a quem realizar plágio intelectual".


Claudiomiro Machado Ferreira e Dr. Aury Lopes Jr 11.10.2013